POLÍTICA E ESPIRITISMO

Por que o espírita é apolítico?

Esse posicionamento decorre, em primeiro lugar, de uma interpretação equivocada de neutralidade, que em nosso meio, virou omissão. Segundo, pelo desconhecimento do que realmente é a política e seus nobres objetivos, que devem resultar em corretas atitudes na organização e no exercício do poder. É que, infelizmente, estamos acostumados ao seu lamentável avesso: a politicagem.

O “Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa” de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, define a política como “um ramo das Ciências Sociais que trata da organização e do governo dos Estados; a ciência de governar os povos, a arte de dirigir os negócios públicos e estabelecer relações civilizadas.”

No Livro dos Espíritos, a Questão 132 indaga: “Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?” Em parte, a resposta é: “(...) a encarnação tem também outro objetivo, que é o de colocar o Espírito em condições de cumprir sua parte na obra da criação (...) de tal sorte que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta”.

Somente envolvendo-nos em atividades sociais e políticas poderemos transformar a sociedade e por extensão a Terra, elevando seu nível. Hoje, podemos agir politicamente através das várias organizações não governamentais (ONGs) que procuram realizar o que instituições públicas e especialmente as religiões, sempre tentaram e não conseguiram: justiça social, respeito aos diferentes e à natureza em geral.

As melhores conquistas da humanidade surgiram por conscientização e ação política, não decorreram de meras convicções e discursos. As idéias de igualdade, liberdade e fraternidade, não se originaram em órgãos de governo, nem no seio das igrejas, embora seu permanente discurso e clamor por justiça. Idem, quanto à abolição da escravatura, da censura à segregação racial, da aceitação de minorias estigmatizadas, da preservação do meio ambiente, etc. Sempre foram as ações de cidadania, decorrentes da mobilização dos interessados, que pressionaram as organizações sociais para as mudanças necessárias.

Apesar desses avanços, a grande maioria dos espíritas defende a idéia de que espiritismo e política não se misturam. Contrariando essa interpretação, entendemos que a filosofia espírita é eminentemente política, já que explica a inter-relação dos espíritos encarnados e desencarnados durante sua evolução, neste ou em outros mundos das dimensões física ou espiritual. Portanto, participar e contribuir para a melhoria das condições sociais atuando politicamente, é promover o aperfeiçoamento geral, uma das tarefas da nossa condição de “co-criadores”. Afinal, temos responsabilidade parcial no processo.

O conceito de que “política é coisa suja” está de tal modo arraigado em nosso meio, que nos recusamos a admitir que ela só será limpa quando a participação de honestos e bem intencionados puder fazer a faxina moral de que ela necessita. A questão 932 de “O Livro dos Espíritos” trata do assunto: “– Por quê, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons?” Resposta: “– Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes, os bons são tímidos. Quando estes quiserem, preponderarão”.

Portanto, é adequado e justo, o propósito de mostrar a excelência dos conceitos espíritas, visando embasar leis e políticas públicas. Assim, se queremos progresso e justiça, devemos mudar o discurso vigente de que “espiritismo e política não se misturam” pois não há como falar de cidadania sem incluir ação política e não há como falar de ação política sem comunicação.

Temos que nos comunicar e agir politicamente com a base ética da Doutrina Espírita, atuando coerentemente segundo as convicções humanistas nela adquiridas, em nossa vida comunitária e no âmbito das instituições governamentais; fora ou dentro dos partidos com os quais tenhamos afinidades ideológicas - porém sem propósitos exclusivistas, discriminantes.

Se nos isolarmos nas casas espíritas apenas orando e esperando que Deus e os bons espíritos transformem o mundo em que vivemos, jamais promoveremos mudanças. Nelas, nossa função primordial é a de formar líderes conscientes para atuar em sinergia com todos. E não a de sermos meros consoladores, devido ao insucesso dos governos que geram as desgraças sociais que nos atingem, quase sempre em virtude de nossas próprias omissões.

(Retirei alguns tópicos do texto, que julguei desnecessários ao entendimento do assunto em questão. Mesmo incompleto, mantive inalteráveis as palavras e o sentido dado ao mesmo por sua autora, Nícia Cunha)

Nicia Cunha é Empresária de Serviços em Cuiabá-MT,
delegada da CEPA-Confederação Espírita Pan-Americana e
correspondente da ASSEPE-Associação de Estudos e
Pesquisas Espíritas de João Pessoa-PB.

Na qualidade de fundadora do Espiritismo Reformista, faço minhas as palavras de Nícia Cunha, porque acredito firmemente que religião/filosofia/doutrina e política deveriam caminhar juntas, pois que tanto uma como outra têm ideais elevados, embora estejam TODAS distantes da prática destes ideais, cada qual por motivos diversos.
"A política deveria ser uma religião para os homens públicos, assim como, a religião é a política de Deus" - Sonia Naranjo

Um comentário:

  1. Prezada Sonia!
    Quero te agradecer por trazer à nossa reflexão mais esta belíssima pérola. Ainda não consigo expressar por meio das palavras o meu grau de satisfação ao me deparar com mais esta vertente do Espiritismo. Neste momento, só posso dizer: Parabéns à Você! Parabéns ao Espiritismo Reformista por mais esta contribuição em prol do nosso desenvolvimento espiritual, humano e social!!!

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