ESPIRITISMO REFORMISTA (PARTE II)

A mediunidade, ao tempo de KARDEC, mesmo com todo controle exercido pelo seu discernimento e bom senso na condução de uma doutrina iniciante e com poucos adeptos, já era mistificada, como o próprio codificador nos relata em "O Livro dos Médiuns" e em "Obras Póstumas". O "O Livro dos médiuns" é cheio de advertências, quanto ao caráter das comunicações, insistindo na total importância do critério e do bom senso, para a constatação da veracidade ou não das comunicações. Espíritos inferiores e zombeteiros costumam interferir e perturbar os grupos, sem que se dê acordo desta realidade, com conselhos, orientações e atitudes esdrúxulas ou exóticas, muitas vezes, usando o nome de espíritos respeitáveis, para dar credibilidade ao fenômeno. No "O Livro dos médiuns" há alguns exemplos de comunicações, recheadas de palavras difíceis e pomposas, assinadas com nomes ilustres, cujas autenticidades são discutíveis. Há mensagens assinadas até por Deus e Jesus Cristo!? Allan Kardec as assinalou para nos advertir. Para que não nos equivocássemos, com palavras bonitas. Mas isso só é possível com critério e bom senso. E critério e bom senso só se obtém com estudo constante, observação e raciocínio lógico. E nunca com fanatismo! Uma das máximas do Espiritismo é a FÉ RACIOCINADA.

Portanto, é fácil prever o que acontece hoje, com milhares de centros espíritas espalhados pelo Brasil, dirigidos, infelizmente, por pessoas despreparadas e que entronizaram a mediunidade, como foco principal do Espiritismo, com desconhecimento de sua Doutrina. Sem a cobertura ou supervisão das Federações, para lhes dar freio ou diretriz na condução de suas Casas. "Cegos guiando cegos", conforme ensinou o nosso Mestre Jesus.

Kardec dedicou um livro à mediunidade: "O Livro dos Médiuns", porque foi o meio pelo qual se utilizou para codificar o Espiritismo. Isto porque, na época, houve um verdadeiro espocar da mediunidade em várias partes do mundo. Era o momento! A manifestação do desconhecido num meio hostil, devido ao clero; e desorganizado, devido à ignorância sobre o assunto. Portanto, era necessário o conhecimento, a educação, a disciplina. E, apesar de tanta orientação quanto aos diversos tipo de mediunidade, Kardec deixou claro que a intuição e a inspiração são as melhores formas de mediunidade, pois, resultam da reforma íntima e do grau de evolução de cada um.

Porém, devido ao trabalho minucioso efetuado por Kardec, as bases fizeram da mediunidade um dogma, uma obrigação, que passou a ser seguida por todos os centros espíritas. Caso contrário, não é um centro espírita. Isto ocorre devido a uma única comunicação, transmitida por um espírito que assinou o nome de Channing e que, infelizmente, foi mal interpretada.

Essa comunicação consta das páginas 452-453, do "O Livro dos Médiuns", e vou transcrever apenas o início e o fim da mesma, pois, o seu conteúdo não modifica de maneira alguma, o que desejamos esclarecer:
"Todos os homens são médiuns, todos têm um espírito que os dirige para o bem, quando sabem escutá-lo. Agora, que uns se comuniquem diretamente com ele, valendo-se de uma mediunidade especial; que outros não o escutem senão com o coração e com a inteligência, pouco importa; não deixa de ser um espírito familiar quem o aconselha. Chamai-lhe espírito, razão, inteligência, é sempre uma voz que responde à vossa alma, pronunciando boas palavras. Apenas nem sempre as compreendeis... Escutai essa voz interior, esse bom gênio, que incessantemente vos fala, e chegareis progressivamente a ouvir o vosso anjo guardião, que do alto dos céus vos estende as mãos. Repito: a voz íntima que vos fala ao coração é a dos bons espíritos e é deste ponto de vista que todos os homens são médiuns" (Channing).

Eu, particularmente, entendo o que Channing quis dizer, entretanto, considero essa mensagem confusa, dando origem a outras confusões, sendo que uma delas é considerar-se todos os homens "médiuns", ou seja, capazes de se comunicar ou receber comunicações do plano espiritual. O que não é verdade. Perceber que há algo ou alguém que nos atende quando clamamos por ajuda em momentos difíceis, não significa que somos "médiuns" e, muito menos, missionários. Significa simplesmente, que Deus dá a todas as suas criaturas, amparo e proteção nos caminhos da vida, sem privilegiar ninguém, principalmente nos momentos difíceis.

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